Perguntas e Respostas sobre o Autismo

Nesta terça-feira (2 de abril), é comemorado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Para dar visibilidade às diferentes necessidades dos pacientes que convivem com a condição e ampliar o debate sobre o assunto, o SBP Notícias conversou com a presidente do Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), dra. Liubiana Arantes de Araújo.

Nesta terça-feira (2 de abril), é comemorado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Para dar visibilidade às diferentes necessidades dos pacientes que convivem com a condição e ampliar o debate sobre o assunto, o SBP Notícias conversou com a presidente do Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), dra. Liubiana Arantes de Araújo.

Na entrevista, a especialista esclareceu algumas das principais dúvidas acerca do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em suas diferentes manifestações e ressaltou a fundamental atuação do pediatra para a identificação precoce do problema, que vem crescendo entre a população pediátrica. Estima-se que atualmente cerca de dois milhões de brasileiros sejam portadoras do TEA.

Além disso, dra. Liubiana de Araújo comentou alguns dos avanços recentes relacionados aos métodos terapêuticos e destacou a expressiva atuação da SBP na promoção de cursos e eventos, em diferentes locais do País, no intuito de qualificar os pediatras brasileiros.

SBP Notícias – Quais as principais características do autismo?

Dra. Liubiana de Araújo – O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades de comunicação e interação social, assim como pela presença de comportamentos e interesses repetitivos ou restritos. Esses sintomas configuram o núcleo do TEA, mas a gravidade de sua apresentação é variável. As crianças podem apresentar atrasos desde os primeiros meses de vida ou ter desenvolvimento normal até cerca de dois anos de idade com regressão posterior.

As manifestações do TEA são classificadas em leve, moderada e grave. O TEA leve é característico do paciente que não apresenta atrasos significativos. No geral, eles se comunicam e mantém suas atividades da vida diária e possuem um nível de interação social. Podem apresentar estereotipias, porém men os evidentes. O TEA grave é representado pelo paciente com grande déficit. A comunicação e interação social são precárias. Eles apresentam comportamentos repetitivos muito intensos, podem se autoagredir, possuem uma rigidez grande a rotinas e podem ter estereotipias mais incapacitantes, tais como correr de um lado para o outro, balançar o corpo e as mãos (flapping).

Já o TEA moderado apresenta um meio termo entre as duas condições. A determinação sempre depende da avaliação médica. Existe ainda a Síndrome de Asperger. Esses pacientes geralmente têm um diagnóstico mais tardio, pois são indivíduos que comumente não apresentam atrasos de linguagem, pelo contrário, possuem um vocabulário rebuscado, porém formal e monótono.

Outra característica desses pacientes é que são bastante literais e têm dificuldades para compreender o sentido figurado. Há também pouca expressão social e capacidade de entender a empatia, pois a habilidade de se colocar no lugar do outro é pouca desenvolvida no cérebro. Geralmente, falam o que pensam, não percebem se o outro está triste ou cabisbaixo.

SBP Notícias – A quais sinais de suspeita os pais devem estar atentos?

Dra. Liubiana de Araújo – Ainda nos primeiros meses de vida, o bebê já pode demonstrar alguns sinais que indicam o Transtorno. Mas é preciso deixar claro que a criança não precisa apresentar todos os indícios para só então levantarmos a suspeita. A criança pode ter vários ou poucos desses sinais. Alguns dos fatores comuns ainda no início da vida são: atraso no sorriso; predileção por objetos e pouco interesse em fixar faces humanas; não há reciprocidade no olhar; dificuldades graves de sono; atrasos na linguagem; entre outros.

Há bebês que não sentem ansiedade ao serem separados da mãe. Quando a criança cresce é possível perceber um déficit de interação com as outras pessoas. Alguns tem dificuldade em olhar nos olhos, outros não fazem e outros fazem de maneira fugaz. Têm crianças que possuem comportamento arredio ao toque. Há ainda os pacientes que tentam socializar, mas se incomodam bastante com o contato em grupo. Preferem ficar isolados e brincar sozinhos de forma independente. Muitas das vezes, não esboçam reação com o afastamento dos pais no primeiro dia de aula, pois são indiferentes ao ambiente em que estão.

Outra característica comum é a dificuldade em mudar a rotina. Por exemplo, se está fazendo uma atividade, ela resiste em alternar para outra. Há também crises de desorganização, que geralmente parecem com uma “birra”, mas ocorrem devido à dificuldade em lidar com as mudanças ou de expressar o que sentem, como a irritabilidade secundária à hipersensibilidade a estímulos. O barulho de uma máquina ou a textura de uma roupa podem ser perturbadores para eles. A seletividade alimentar também é bastante evidente.

Há ainda o comportamento manifesto de forma repetitiva e estereotipada, a partir de interesses restritos. Algumas crianças por exemplo gostam de dinossauros. Nesse caso, tudo o que for relacionado ao tema – brincadeiras, livros, histórias – desperta sua atenção. Eles não têm interesse em outros tipos de brincadeiras. Os interesses restritos são pessoais e variam em cada criança, podendo se perpetuar na adolescência e vida adulta.

SBP Notícias – Qual o papel do pediatra na detecção do autismo?

Dra. Liubiana de Araújo – A atuação do pediatra é fundamental para a identificação precoce do autismo, uma vez que é ele o profissional responsável pelo acompanhamento das crianças desde os primeiros dias de vida. Quanto mais cedo o especialista identificar os sinais que possam sugerir o diagnóstico do TEA, mais rapidamente será iniciada a estimulação e mais efetivos serão os ganhos no desenvolvimento neuropsicomotor.

O diagnóstico do Transtorno só pode ser dado após uma série de avaliações clínicas realizadas por um médico especializado. Existem escalas validadas internacionalmente para que o diagnóstico ocorra de forma mais assertiva. Vale ressaltar que a triagem para autismo deve ser feita em todas as crianças, mas o diagnóstico deve ser confirmado apenas depois de afastarmos os diagnósticos diferenciais e diante de uma avaliação muito criteriosa.

A SBP recomenda a todos os pediatras que preencham a Caderneta da Criança para avaliar o desenvolvimento neuropsicomotor de seus pacientes. Esse acompanhamento deve ser feito em toda consulta de puericultura, principalmente nas crianças abaixo de dois anos.

Na consulta, o pediatra deve brincar com a criança para avaliar sua linguagem e nível de interação. Além disso, coletar junto aos pais dados sobre essas habilidades e, caso a criança já esteja na escola, também pedir um relatório de avaliação dos professores. Além disso, há o documento científico Triagem precoce para Autismo, elaborado pelo DC de Desenvolvimento e Comportamento, com orientações para a aplicação do M-Chat, que é um questionário indicado para detectar crianças que possivelmente tenham o TEA.

Em caso de diagnóstico positivo, o pediatra deve orientar a família sobre as intervenções necessárias, com ênfase na importância de estimularem o afeto, vínculo, linguagens e interação social para que o cérebro da criança receba constantemente estímulos diversificados. A família também terá que receber atenção especial do pediatra. Muitas vezes, os pais se separam ou o irmão fica isolado porque só há cuidado com o filho autista.

Após o diagnóstico é fundamental esse acolhimento da família. Sempre marcar retornos mais próximos para perceber como está essa aceitação, retirar dúvidas, discutir sobre o tratamento interdisciplinar e acompanhamento nutricional. Tudo para que a criança apresente condições favoráveis de desenvolver suas habilidades e os pais possam compreender e iniciar a intervenção de forma rápida.

SBP Notícias – Por que o diagnóstico precoce é tão relevante?

Dra. Liubiana de Araújo – Quanto menor a criança a velocidade de formação das redes neurais no cérebro. Quando você oferece um estímulo em idade precoce, o cérebro está formando muitas conexões. Logo, melhoram as chances de formar novas conexões referentes àquela habilidade almejada. Quanto mais cedo intervir, mais fácil do cérebro responder. Além disso, o pediatra deve estar atento as janelas de oportunidade para desenvolver certas habilidades, que para a linguagem é até os três anos.

SBP Notícias – Qual o prognóstico de uma criança autista? Nos últimos anos, quais as mudanças ocorridas no tratamento?

Dra. Liubiana de Araújo – O TEA não tem cura, mas a intervenção precoce pode mudar o futuro do paciente, melhorando muito a qualidade de vida. Há pacientes com o nível leve que possuem uma vida normal, são casados, têm sua profissão. Quanto mais cedo o diagnóstico, melhores são as possibilidades.

Antigamente, os estudos e especialistas focavam na atenção aos casos graves. O paciente era direcionado às escolas especiais e usava medicamentos que evitassem o comportamento autoagressivo. Hoje, as pesquisas mostram a relevância de cuidar também dos casos moderados e leves. Atualmente, as medidas são muito mais voltadas à intervenção e escolarização precoce, participação efetiva dos pais non processo de desenvolvimento e uso de terapias direcionadas, como a terapia comportamental.

A SBP tem se dedicado intensamente a visibilizar o assunto, inserindo o tema na programação científica dos diferentes congressos realizados pela entidade e promovendo cursos itinerantes em vários estados do País. O propósito principal é descentralizar a informação e instrumentalizar os médicos, em especial aqueles que atuam em locais distantes dos grandes centros urbanos.

SBP Notícias – Quais as principais orientações para familiares e amigos que convivem com uma criança autista?

Dra. Liubiana de Araújo – É preciso compreender que o cérebro da criança com o TEA é diferente do cérebro das demais. Por exemplo, em momentos de crises de desorganização, a gente tem que tirar o fator de incômodo para que ela volte ao seu comportamento normal. Às vezes, a gente insiste com as demais crianças pois elas se sensibilizam. O que não acontecerá com as crianças com TEA.

Além disso, os seus interesses restritos devem ser utilizados para estimular a apreensão de novas habilidades. Se a criança gosta de calendários, podemos usar calendários de várias tonalidades para ensinar o nome das cores. Sempre tentar capturar a atenção da criança através da aproximação com o seu interesse.

A rotina também é muito importante para a adaptação dessas crianças. É muito útil sempre antecipar o que acontecerá em seguida para eles, mas sem falar muito. O discurso tem que ser simples e objetivo. O melhor é mostrar mais imagens do que falar. Essas crianças entendem bem quando você apresenta fotos e figuras, pois elas são mais visuais do que verbais. Organizar o horário de sono também é fundamental, pois elas precisam dormir bem.

Segundo as pesquisas, outro fator essencial – talvez o mais importante –, é a presença qualitativa da mãe e do pai. Eles têm que brincar, estar juntos, fazer atividades ao ar livre e principalmente lidar com essa criança de maneira natural e afetuosa. Elas precisam ter uma infância comum, pois são crianças como quaisquer outras, apenas possuem uma forma diferente de pensar, perceber o mundo e agir.

 

 

Referência: https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/pediatra-tira-duvidas-sobre-autismo-e-destaca-importancia-do-diagnostico-precoce/

 

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Postado por Fabiane Durão

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